Mães
Quero criar um cavalheiro, não um troglodita !
Duas histórias me perseguem...
Cena número 1
Dona Leni, uma senhora idosa que gosta de discutir maternidade e temas afins, diz ofegante depois de uma volta do mercado:
- Eu preciso lhe contar o que vi! Eu estava no mercado e vi um cara fortão, desses que são musculosos e usam a camisa bem justa, com sua família no mercado. Ele, a esposa e duas crianças. Eram dois garotos assim, diz ela, mostrando com a mão o tamanho, a mãe ia na frente olhando o celular e ele com os dois atrás. O mais velho quase me atropelou e disse: sai da frente vó! O pai gritou: tá cego fulaninho!!! Olha pra frente peste! Quando eu fui pegar o pão, o menor estava tentando atropelar o mais velho com o carrinho de compras. O pai deu um grito nos dois. O mais velho gritou de volta no mesmo tom. O pai se abaixou e disse, contraindo um de seus musculosos braços: Eu te dou um tabefe e você cai sentado. Comigo a lei é do mais forte, enfatizou ele, olhando em volta para a pequena plateia que se formava para o pão quentinho.Conta também dona Leni que não deixou de ter o infortunio de encontrar a familia novamente no caixa. Novamente, os filhos se provocavam e brigavam. O Pai, mais uma vez, fez a sua intervenção dramatica, respondendo ao mais velho que se queixava do peteleco dado por seu irmão atrás da orelha. Outra vez o jovem senhor musculoso se impertigou e disse: Você é mais velho, resolva você mesmo! e virando-se para o menor disse: Quando ele te quebrar no chão, não reclama!Minutos depois o pai resolveu se dirigir a mãe que, ainda olhando para o celular e teclando com velocidade não percebia que era a sua vez de ser atendida:-Vamos! Só sabe passar batom e conversar no face! Disse ele dando um tapinha nela e sorrindo.A essa altura, conta a idosa exaltada, a jovem mãe resolve abrir a boca e dizer algo. Olhando pra dona Leni:- Homens, disse sorrindo, todos iguais!!A idosa conta irritada que pensou consigo:
-Homens nada!!! Um troglodita e seus pequenos aprendizes!!!
Cena de número 2
Aqui vou omitir alguns detalhes, pra preservar Maria, a babá envolvida na história. Eu estava num determinado lugar cheio de babás, onde além delas estavamos eu, outra mãe e uma avó. Maria e uma outra babá tinham, em oportunidades anteriores conversado comigo. Nessa ocasião, enquanto eu esperava por Benjamin, ela me disse, olhando ao redor e checando se havia alguém que pudesse nos ouvir:
- Dona Ana preciso falar com a senhora. É sobre Carlinhos, sussurrou, referindo-se á criança que cuida. Ele bate muito nos coleguinhas. Lá no predio ninguém quer brincar com ele.
Fiz algumas perguntas pra me situar na rotina de Carlinhos, expliquei também pra Maria que eu sou psicologa, mas não podia analisar um comportamento assim. No entanto, logo entendi a situação quando perguntei como a familia do menino reagia aos seus ataques a outros.
- Quando ele bate num adulto, eles ficam mandando bater em outros e acham graça. Quando eu conto o que ele fez no parquinho, ele diz ‘foi! Eu meti porrada!' (Desculpem o termo) E todo mundo acha graça.
Ela me disse que amava Carlinhos, mas se sentia impotente para ajudá-lo. Conversei um pouco com ela e nos despedimos. Tive a impressão que aquela moça podia ser a única esperança pra evitar que aquele belo menino se tornasse o que aquela idosa chamou de troglodita.
Deixe-me fazer uma ressalva, sei que o termo troglodita tem sua raiz na história de povos antigos que viviam em cavernas. Vou, no entanto, tomar a liberdade de fazer uso do termo no sentido comum. Deixe-me também dizer que acredito que pode existir um ser gentil por trás de um grandalhão parrudo.
Vou, no entanto, começar confessando que morro de medo de que em pequenos gestos cresça em meu filho um troglodita e que eu deixe de perceber. Quando lido com meu pequeno, a fala anasalada de dona Leni me persegue.
Um dia estavamos saindo os três ou melhor os quatro, pois Beatriz já estava no meu ventre. Meu marido, com a gentileza que lhe é peculiar pegou as bolsas que eu carregava pra me ajudar. Benjamin querendo pegar carona no braço do pai se opos ao gesto dizendo:
- Papai, deixa a mamãe levar as coisas dela.
O pai argumentou e ele não aceitou. Então, eu me abaixei, olhei nos olhos dele e disse:
-Meu amor, o papai está ajudando a mamãe. Ele está sendo legal. É muito bonito quando um rapaz ajuda uma menina.
Ele respodeu:
- O papai é educado?
- Sim, respondi.
Eu não quero criar um troglodita! Cheio de força fisica e vazio de gentileza. Se Deus der vida a dona Leni, quero que meu filho abra a porta pra ela e a ajude com a sacola. Quero que como eu me apaixonei pela forma como meu marido ajudava sua mãe, alguém possa ver isso no meu filho.
Espero que Deus escute meu anseio!!!
P.S: Se você não aprecia a gentileza masculina e acha que as diferenças fisicas entre homens e mulheres não devem ser empregadas, pule este post! Não se ofenda. Ele não foi feito pra você!!!
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