Não, eu não esqueci a lei da palmada!
Mães

Não, eu não esqueci a lei da palmada!


Quando escrevi sobre a lei da palmada, tentei chamar atenção para algo que me parece grave e mais importante do que muita coisa que fez muita gente protestar. Muitos entenderam meu texto num sentido próximo do que eu quis comunicar. Já outros acharam que eu era uma sádica maluca querendo impor respeito na base da pancada porque é mais fácil.  O irônico nisso tudo é que eu não disse a ninguém como disciplinar ou impor limites aos seus filhos e sequer falei sobre a forma como educo meus filhos. Creio que os argumentos centrais do meu texto foram:

A época em que vivemos lança um modelo de indivíduo desapegado a suas raízes. Os grandes ancoradores da forma de pensar passaram, na época em que vivemos, a ser questionados e postos sob as lentes de um mundo onde tudo passa pela lógica de uma ética utilitarista e conveniente. Os pais como representantes das tradições sociais, que sempre tiveram o papel de, mesmo pensando criticamente, passar adiante aquilo que aprenderam na vida e do mundo, se tornam aqueles que devem cada vez mais apagar o seu papel e deixar que um outro o exerça sobre o nome do preparo, do conhecimento acadêmico e de uma forma pretensamente melhor de lidar com os indivíduos. Não estou desprezando o conhecimento e a ciência! Eu só não posso negar o que me parece evidente à frente dos olhos! É triste ver que caminhamos para uma produção de indivíduos em série.  Afinal, as diferentes formas de educar produzem as singularidades e diferenças entre os indivíduos. Hoje, uma pessoa me comentava que ser mãe e pai já foi algo mais simples. Hoje, parece não prescindir de diploma!

Um dia desses eu vi um comentário num site de um famoso meio de comunicação sobre um apresentador que, não sei se por oportunismo ou convicção, criticou a intromissão do Estado no âmbito privado da família. Como eu gosto de observar a forma como as pessoas reagem às coisas fui diretamente aos comentários dos internautas. Não me surpreendeu o fato de boa parcela dos que discordavam do tom e das palavras do apresentador escreverem de forma clara que talvez a solução para tirar a sociedade da mão dos retrógrados, eu devo estar incluída dentre eles, que acreditam que devem ter voz ativa sobre os filhos é coloca-los em escola integral para que assim se possa ter esperança sobre o nosso pais. O que me parece, no meu simplório entender de quem não transita entre os que fazem a lei, é que somos o empecilho para que algo aconteça. Parece que nós os pais somos a única esfera de influência na vida das crianças que ainda pode resistir a uma avalanche de ideias e agendas que não são expostas na luz por não ser conveniente. Sim! Nós temos um papel determinante sobre o crescimento de nossos filhos. Nós somos aqueles que podemos instruir e construir as bases do caráter, visão de mundo, crenças e tantos outros aspectos da vida. Alguém descobriu, enquanto os pais não enxergam isso, que os primeiros anos da vida de uma pessoa são significativos. Digo isto com convicção de quem já ouviu muita coisa nessa vida, muitos relatos traspassados de dor, muitas historias de gente que parece rodar em círculos em torno dos resquícios reconstruídos de  experiências significativas da infância.  Faz todo sentido que todo plano de domínio passe primeiro pelas nossas crianças.

O que eles nos dizem é ``vão cuidar de vossos afazeres e deixem suas crianças conosco. As educaremos, cuidaremos dela e  elas serão vossas ao fim do dia e nos fins de  semana ou vez por outra´´.  Nós, pais, devemos ter a mente aberta e aceitar que a diversidade de experiências, com pessoas de diferentes formas de pensar tornam a criança tolerante, criativa e evitam a fixidez de pensamento. Contraditoriamente, eles estreitam cada vez mais e amarram na sua ideologia e forma de pensar a escolarização brasileira. Sim! É só olhar os famosos temas transversais, a tentativa de ensinar, a partir da ideologia dominante, sobre sexualidade, não do ponto de vista biológico, mas tendo como carro chefe a visão dominante sobre a forma de exercer e administrar esta área da vida humana; além disto, observemos a vindoura obrigatoriedade de exibir filmes nacionais numa determinada porcentagem da carga-horaria escolar, dentre outros exemplos que poderia citar de amarras sobre as quais mesmo escolas cristãs precisam sobreviver. Nós precisamos abrir a mente e a guarda. Eles precisam amarrar a escolarização a suas amarras ideológicas. Sim… creches, escolas em tempo integral…menos os pais, menos a família. A escola precisa de mais tempo com nossos filhos, nós de menos!

Sei! O governo se interessa por nossas crianças! Os propósitos das cabeças que pensam e confabulam sobre a educação são os mais nobres, diriam alguns. Eu sei, nas escolas de tempo integral há laboratórios, mas há também a doutrinação politica e ideológica. Se vocês acreditam que de repente há um forte interesse pela segurança e vida de nossas crianças, então, deixem que conte apenas um de alguns fatos: Algumas aldeias indígenas brasileiras têm em sua cultura rituais nos quais crianças com diversos tipos de deficiências e outras caracteristicas são sacrificadas. Alguns missionários tocados com aquela situação se organizaram para salvar aquelas crianças. O plano era assim: aquelas mães que quisessem, em casos inclusive em que não houve objeção da tribo, poderiam sair da tribo e cuidar de suas crianças num local onde seriam mantidas e as crianças receberiam tratamento médico, tentando manter, inclusive, algumas caracteristicas peculiares a suas comunidades. Quem acha que o plano foi bem visto por organismos do poder público? Pois é! Nada disso. Sim, o poder público…aquele que quer salvar as crianças das tradições sádicas dos seus perversos pais! Criança indígena pode morrer, então? Ah sei! Não queremos interferir nas tradições alheias, entendo…

Bom , estas contradições me fazem refletir sobre este tema e pedir a Deus misericórdia! Esta semana liberei um video aqui no blog em que se mostra como a ideia de que as crianças pertencem à comunidade já não é vista como tão distante. Alguns ousam achar que elas precisam ser, inclusive,
 libertas da opressão de seus pais. Faço uma ressalva, não estou dizendo que sou a favor que pais  possam usar de violência com seus filhos com nossa conivência. O que digo é que me parece que a coisa se conduz para um caminho em que eu e você somos meros patrocinadores e coadjuvantes na infância de nossos filhos. Tristes dias estes, só a fé nos encoraja e dá forças para lutar.

Sabem, queridos, tenho que confessar algo: Na primeira vez em que saiu o projeto da lei da palmada eu escrevi um texto que me foi solicitado questionando o por que de uma lei tão vaga no papel sobre um tema que o ECA já legislava. Me parecia incompetência. Hoje eu consigo crer que nada disso é por acaso. Se você explicita a coisa no papel, você deixa claro seus propósitos. Se você deixa aberturas para quem pensa como você haja, você não assusta a população e dá uma brecha para que quem quer que queira e possa punir os pais de acordo com sua ideologia o faça. Você torna mais simples a imposição de sua forma de pensar. Então, vamos sugerir diálogo para educar os filhos  sem punições (sim tem quem ache que até colocar de castigo ou para refletir no cantinho é humilhante!!!) e vamos punir os pais e promover nenhum diálogo com eles.

Um dia desses uma amiga foi procurar a escola para saber sobre que tipo de filme e atividade estavam passando para sua filha. Ela queria saber que conteúdo acadêmico justificava a maratona de filmes da Disney que sua filha estava assistindo. Ela me disse que entendia que para assistir TV sua filha poderia ficar em casa, a não ser que houvesse uma justificativa curricular para aquilo. Ela não ouviu explicação  alguma. Me contou que se sentiu envergonhada de seu gesto. A escola a encaminhou para a psicologa de plantão para que ela conversasse sobre sua insegurança em confiar na escola, afinal ela tinha escolhido aquela escola. Deveria, então, confiar! Então lá foi ela para uma seção bizarra de auto-ajuda barata. Esta é a palavra da vez! Confiemos nossos filhos ao governo, às escolas, às creches e fiquemos quietinhos. Eles estão não só de olho, mas também determinando até o tipo de filme que nossos filhos devem assistir. Afinal, nós não fazemos um bom trabalho, eles não podem confiar em nós. Eu do lado de cá, com meu teclado inflamado me pergunto: De quem são os filhos afinal? Quando eu decidi que só seria procriadora e patrocinadora deles?
 Não, eu não esqueci a lei da palmada porque ela é só uma parte terrível de algo que se não abrirmos os olhos está por vir. Não, não tive nenhuma visão profética! Eu só tenho esta forte impressão. Acredite, ela se ampara em fatos!

Imagem: childdevelopmentinfo.com



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