Mães
Cheguei a uma conclusão: precisamos de crianças!
Uma vez ouvi uma frase que não lembro a quem pertence e quem a replicou para mim que dizia que uma sociedade se revela pela forma como trata suas crianças e seus idosos. Se aplicarmos este parâmetro para avaliar nosso mundo temo que teremos uma das mais pessimistas perspetivas.
Como este é um blog sobre maternidade, vou me ocupar de falar de uma impressão que me persegue, não sei se alguma mãe ou pai atento e leitor deste blog terá a mesma impressão que eu. Às vezes, eu sinto que vivo num mundo avesso à existência de crianças, um mundo hostil à crianças, parece que antes que sejam feitas laqueaduras e vasectomias nos pais, são feitas esterilizações na alma das pessoas, mesmo daquelas que não têm mais idade de tê-las ou que ainda as terão. Eu sou uma mãe canguru. Sempre que possível levo minhas crias no bolso para todos os lugares que posso. Eu gosto de estar com eles. Desde que fui tia ou antes disso, quando adotava os filhos das amigas já era assim. O que sinto é que em poucos lugares, espaços e corações crianças são aceitas com naturalidade.
Eu costumo passear com meus filhos pelo bairro. Sempre que possível ponho Beatriz no carrinho e Benjamin de guardião ao lado e saímos explorando a rua antes que o cheiro de poluição do horário de pique chegue. Costumo também ir a pé com Benjamin a feiras públicas e supermercados próximos de casa. É tristemente engraçada a reação que isso causa nas pessoas. Para alguns isto vira atração, para outros incomodo. os cachorrinhos saem às ruas. Eles passeiam com seus donos, já as crianças não. Vejo os olhares que vão desde curiosos e admirados até incomodados como se meus filhos estivessem no lugar errado ou fossem de porcelana e fossem quebrar, especialmente Beatriz.
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As coisas normais da infância parecem incomodar. O que se diz de ter filhos é que estes atrapalham o romance, tomam tempo, custam caro e devem o quanto mais cedo possível se virarem sozinhos. Não é raro que uma mãe escute um comentário dizendo-lhe que a infância do filho logo, logo vai passar como se a infância de nossos filhos fosse como um resfriado que você espera ansioso que acabe. Este é o mundo que vivemos! Crianças servem pra expor um pouco e tirar fotos e pronto! Tranquemos a criançada em casa, torçamos para que cresçam e Deus tenha piedade de nós. Não é a toa que a industria do entretenimento infantil cresça tanto. Ninguém quer os filhos junto a si!!! Ninguém tem tempo para eles! Eles sujam, choram, exigem tempo e dedicação. Arrumemos então o que façam, de preferência longe de nós.
Nos restaurantes que frequentamos que as babás se encarreguem deles numa mesa separada, como se eles tivessem uma especie de praga ou doença contagiosa. Na igreja, um dia desses ouvi de uma irmã que no berçário (que é um lugar pra mim pra trocar fralda, alimentar, etc) deveríamos procurar enfermeiras para cuidar dos filhos para que as mães assistam o culto na santa paz. Nas férias devemos arrumar o máximo de atividades para que não quebremos as unhas feitas brincando na areia, sujemos a roupa com o sorvete do filho, nem tenhamos o transtorno de lidar com uma criança sendo criança. O que se diz sobre eles? São barulhentos, tomam tempo, dão trabalho e devem ao máximo ser evitados nos programas dos pais. É comum uma mãe precisar de ajuda e alguém pensar ou dizer algo que demonstra que muitos adultos pensam nas crianças como uma bomba relógio ou uma obrigação chata. Um dia desses, uma pessoa que trabalhou comigo ligou pra mim e Benjamin estava puxando minha saia tentando me falar algo. Pedi compreensão do outro lado e perguntei a ele se podia esperar. Ele me falou de um incomodo físico e eu pedi a minha interlocutora para retornar a ligação posteriormente, depois de checar o que de fato ocorria. Ela grosseiramente me disse pra chamar a babá. Eu falei que não tinha. Ela replicou dizendo que enquanto eu escolhesse chafurdar entre fraldas nunca iria pra frente. Eu estava, para ela, parada na infância de meus filhos. Paciência! Sou mãe! Eu não parei no tempo e no espaço! Eu só tenho que muitas vezes me abaixar e deixar que meus passos sejam dados na perspetiva dos pequenos. Crianças choram, brincam, pulam, arrumam diversão em tudo, precisam de atenção e direção. Elas não remendam casamentos acabados, elas trazem a luz essas feridas para que sejam tratadas. Elas não nos tiram o direito a viver, elas mostram as nossas reais prioridades. Elas não nos atrapalham, elas nos desaceleram. Quer ver alguém angustiado? Diga-lhe que adiou um projeto pessoal pelos seus filhos.
No entanto, deixe-me remar contra a maré. Este mundo precisa prestar atenção em suas crianças. Sim, porque elas precisam! Também porque precisamos delas. Você conhece uma mocinha fútil e arrogante? Torça pra que um dia ela seja mãe e se deixe tocar pela maternidade de fato!!! Você conhece um filho mimado que casou mas não assume suas responsabilidades adultas? Torça para que ele de fato seja tocado pela responsabilidade que é ser pai de verdade! Você quer desacelerar alguém que corre desenfreadamente? Ponha uma criança em sua vida e peça a Deus pra que essa pessoa segure a mão do pequeno. Este mundo que corta o prazer da presença das crianças, precisa é delas.
Um dia desses, eu ouvi alguém dizer que sou dependente dos meus filhos tanto quanto eles são de mim. Eu ri. De fato é verdade. Eu precisava ser mãe deles tanto quanto eles precisam de mim. Ser mãe expõe nossas imperfeições, exige-nos tratar nossas feridas e encarar nossos fantasmas. A maternidade demanda de nós o entendimento de que somos imperfeitas e inacabadas na oficina do nosso Mestre. Nossos filhos fazem ruir nossas respostas prontas e nos fazem correr ao altar do Senhor implorando por misericordia e sabedoria. Deus sempre dará aos pais os filhos que potencialmente podem aperfeiçoa-los. Eu preciso dos meus filhos! Eles afloram o melhor em mim e expõem o que há em mim de ruim para que seja tratado. Sabe porque este mundo anda tão cruel, mesquinho, hiperativo e louco? Porque deixamos de prestar atenção nas crianças. Tem uma criança perto de você? Quer se fazer um grande favor? Passe mais tempo com ela!
Enquanto escrevo estou ouvindo uma canção cristã chamada Saved by love (salva pelo amor) escrita por Amy Grant sobre sua irmã. Ela descreve a vida de uma mulher salva pelo amor de ter sua familia para cuidar no dia-a-dia. Essa canção me descreve. Todo dia meus filhos me oferecem a mão pra me salvar de mim mesma: de ser egoísta, mesquinha e de só buscar o meu interesse, de achar que sou melhor no que faço, etc. Cada madrugada que acordo, aprendo a não considerar a mim mesma superior aos demais e a ter um coração solidário. Cada dificuldade dos meus filhos para a qual não tenho resposta expõe minha dependência e fragilidade…quando eles crescem e fazem algo sem mim, eles me lembram quen não sou dona das pessoas, inclusive deles…
Você duvida? Eu precisava ser mãe!!! Talvez alguns de vocês sejam bons o suficiente para não precisarem disso. Eu não sou.
Tenham uma boa noite! Cerquem-se de crianças!!! Mas permita-me um conselho, veja por um instante a vida a partir delas. Se as suas cresceram, vá brincar com seus sobrinhos e netos, especialmente se você perdeu o brilho no olhar. Isso é terapêutico!
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